Onde estão os empregos
O Brasil das oportunidades de
trabalho ampliou suas fronteiras.
Há vagas do Ceará ao Rio Grande do Sul
trabalho ampliou suas fronteiras.
Há vagas do Ceará ao Rio Grande do Sul
Fernanda Colavitti
Giovani Pereira![]() A administradora de empresas Keller, que trabalha na Walita em Varginha, no interior de Minas Gerais: "Parece impressionante poder trabalhar na minha área e na minha cidade" |
Transformações econômicas, em sua fase inicial, são conceituais e quase imperceptíveis. Demoram até se tornar algo visível. Observe o mapa abaixo. Há vinte anos, as oportunidades de trabalho no Brasil estavam circunscritas sobretudo aos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Outras regiões do país anunciavam investimentos significativos, mas eram casos isolados, eventuais. Não se podia falar no surgimento de um novo pólo – palavra associada à idéia de um conjunto de companhias agrupadas em determinada região. Pouco a pouco, o mapa do emprego começou a se expandir. A mudança foi identificada inicialmente apenas por analistas do ramo, mas atualmente o processo de pulverização tem a solidez de uma rocha e é extremamente palpável. Já atinge dez Estados. "As empresas decidiram trocar os grandes centros urbanos pelo interior, em busca de posições estratégicas mais favoráveis a seus negócios", diz o cientista político Sérgio Abranches. "A desconcentração foi boa para as companhias e muito positiva para o país."
A alteração das fronteiras do emprego interfere diretamente na vida do recém-formado. Motivo: aquele país provinciano, industrialmente concentrado no chamado eixo Rio–São Paulo, não existe mais. O candidato a emprego que queira disputar uma vaga no mercado de trabalho com chance real de vitória precisa estar aberto a viajar, a morar em outra cidade. A possibilidade de o trainee ser chamado a morar no Nordeste, por exemplo, cresceu muito de um tempo para cá. No último ano e meio, a região recebeu um total de quase 800 indústrias. Isso representa um investimento da ordem de 15 bilhões de reais e 1,2 milhão de empregos. De 1996 a 1998, o PIB do Brasil, excluindo o Nordeste, cresceu 13%. Nesse mesmo período, o PIB nordestino aumentou 15,5%.
Eurico Salis![]() Fábrica de calçados em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul: aquele país provinciano, industrialmente concentrado no eixo Rio–São Paulo, não existe mais |
Quem quiser entender como, de fato, vem pulsando a economia tem de observar o que acontece em diversos municípios brasileiros. No Estado de Goiás, a imagem impressiona, pois há de tudo por lá: frigoríficos, indústria farmacêutica, têxtil, de alimentos em conserva e congelados, bebidas, montadora de avião agrícola e gravadora de CD. Pegue-se o caso de Blumenau, em Santa Catarina. Em alguns anos, o município tornou-se o maior centro têxtil e de vestuário do país, além de ser um destacado pólo de informática. De cada vinte empresas de software em atividade no Brasil, uma está instalada na região. Devido ao bom desempenho do setor, há emprego sobrando em Blumenau nessas áreas. Outra cidade que passou a integrar o mapa produtivo nacional e não faria parte dos planos de um trainee há dez anos: Sobral, no interior do Ceará. Em poucos anos, o município recebeu sete empresas do ramo de calçados e artefatos de couro. A principal delas é a Grendene, que, com a instalação de seis fábricas, é responsável pela geração de 9.000 empregos diretos. Há diversas ofertas de emprego de nível superior na região.
O avanço da fronteira do emprego se dá segundo uma lógica própria. As vagas deixam a Região Sudeste pelas demais regiões, saem da capital rumo ao interior e mudam das metrópoles para as cidades de médio e pequeno porte. Um estudo do economista João Sabóia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre os principais movimentos do emprego industrial no país durante a década de 90, indica crescimento da indústria no interior dos Estados e queda nas capitais e regiões metropolitanas. Enquanto 53% do emprego industrial se concentrava nas capitais em 1989, esse número baixou para 46% em 1997. "A desconcentração industrial em direção ao interior é generalizada em todo o país", explica. Sabóia identificou aumento do emprego industrial em vários Estados, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Eduardo Queiroga![]() A Secrel, empresa de software doCeará: no último ano e meio, a Região Nordeste recebeu quase 800 indústrias. Isso representa 1,2 milhão de empregos |
A descentralização brasileira é um movimento com precedentes internacionais. As grandes metrópoles do mundo, como Londres, Paris, Nova York, viveram o mesmo fenômeno, batizado de "reversão de polarização". Ele ocorre quando as cidades crescem demais e, como conseqüência, os preços explodem, o trânsito fica saturado e as organizações sindicais se fortalecem muito.
Para se ajustar à nova realidade, as empresas têm dois caminhos. Permanecem nos grandes centros e aumentam salários e preços, tornando-se menos competitivas. Ou buscam melhores condições de produção no interior, em cidades menores. É o que está acontecendo com freqüência cada vez maior.
Ao chegar aos pequenos centros, a grande empresa produz uma reviravolta de dois tipos. Uma é quantitativa, pois ela leva consigo uma legião de companhias menores. Com a decisão da Mercedes-Benz de se instalar em Juiz de Fora, Minas Gerais, a cidade recebeu cerca de 100 empresas e uma lista generosa de vagas de bom padrão. A outra reviravolta é qualitativa. Com a chegada da fábrica, os jovens do lugar ganham o direito de disputar não apenas os empregos médios, mas as vagas de nível superior. No início de 1999, a Walita trocou a capital paulista pelo município de Varginha, em Minas Gerais. Foram criados mais de 500 empregos. A fábrica da Walita deu oportunidades para profissionais como Keller Aparecida Petrin Grande Silva, 24 anos, que concluiu o curso de administração de empresas pela Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração ali mesmo, em Varginha. "Parece impressionante poder trabalhar na minha área e na minha cidade", afirma Keller.

1) SOBRAL (CE) Setor em expansão: calçados e indústria de couro
Número de empresas no setor: 6 fábricas da Grendene e 1 indústria de couro Bermas Número de habitantes: 150 000
Distância da capital: 238 km
Número de empresas no setor: 6 fábricas da Grendene e 1 indústria de couro Bermas Número de habitantes: 150 000
Distância da capital: 238 km
2) FORTALEZA (CE) Setor em expansão: informática Número de empresas no setor: 210 Número de habitantes: 2 milhões
3) CAMPINA GRANDE (PB) Setor em expansão: informática Número de empresas no setor: 57 Número de habitantes: 340 000 Distância da capital: 128 km
4) RECIFE (PE) Setor em expansão: informática Número de empresas no setor: 257 Número de habitantes: 1,4 milhão
5) SALVADOR (BA) Setor em expansão: informática Número de empresas no setor: 243 Número de habitantes: 2,3 milhões
6) ILHÉUS (BA) Setor em expansão: informática Número de empresas no setor: 26 (mais 14 em processo de implantação) Número de habitantes: 250 000 Distância da capital: 462 km
7) GOIÂNIA (GO) Setor em expansão: bancos, financeiras e comércio Número de empresas: 13 000 Número de habitantes: 1,1 milhão
8) UBERABA (MG) Setor em expansão: pólos químico, moveleiro e de agrobusiness Número de empresas no setor: 330 Número de habitantes: 250 000 Distância da capital: 494 km
9) BELO HORIZONTE (MG) Setor em expansão: biotecnologia, turismo de negócios, informáticae automotivo Número de empresas no setor: 200 Número de habitantes: 2 milhões
10) JUIZ DE FORA (MG) Setor em expansão: educação, saúde e indústria metal-mecânica (centro de tecnologia do gás natural em implantação) Número de empresas no setor: 500 Número de habitantes: 500 000 Distância da capital: 269 km
11) CAMPINAS (SP) Setor em expansão: telecomunicações Número de empresas no setor: 47 (mais 17 em fase de prospecção)Número de habitantes: 910 000 Distância da capital: 100 km
12) CURITIBA (PR)Setor em expansão: engenharia, lojas, bancos, saúde e educação
Número de empresas no setor: 40 000 Número de habitantes: 1,5 milhão
13) BLUMENAU (SC) Setor em expansão: informática Número de empresas no setor: 494 Número de habitantes: 250 000 Distância da capital: 139 km
14) FLORIANÓPOLIS (SC) Setor em expansão: informática Número de empresas no setor: 400 Número de habitantes: 280 000
15) NOVO HAMBURGO (RS) Setor em expansão: indústria de calçados Número de empresas no setor: 985 Número de habitantes: 220 000 Distância da capital: 45 km
16) PORTO ALEGRE (RS) Setor em expansão: indústria eletrônica (produtos para telecomunicações) Número de empresas no setor: 160 Número de habitantes: 1,3 milhão
Com reportagem de Rosana Tonetti



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